Em "«Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho», Mateus segue a LXX, a única forma do texto de Is 7,14 que usa o termo parthénos «virgem». Em hebraico lê-se 'almâh, substantivo que designa uma jovem em idade núbil ou já casada. Na maior parte dos seus empregos bíblicos, 'almâh designa de fato uma jovem virgem mas o termo não implica necessariamente essa qualidade. Traduzindo o termo por parthénos, a LXX especificou-lhe o sentido transformando a jovem numa virgem, conceito esse que se expressaria em hebraico por betulâh."
"Seja qual for a identidade da mãe e do filho, não há dúvida de que Isaías falava de uma jovem do seu tempo que estava prestes a conceber e a dar à luz um filho. Nada indica que Isaías se referia de alguma maneira a um acontecimento de um futuro distante. ...[Mas,] para o Evangelista, o anúncio de Is 7,14 cumpriu-se com o nascimento de Jesus, ocorrido cerca de sete séculos e meio mais tarde. A referência aos acontecimentos do tempo de Isaías contida no texto está fora do horizonte de Mateus.
Dissemos que Mt 1,18-25 se destina a mostrar que Jesus foi engendrado pelo Espírito Santo. A convicção de que Jesus foi engendrado pelo Espírito Santo será uma conclusão que Mateus tirou de Is 7,14? Nada sugere que tal seja o caso. Pelo contrário, tudo indica que a dita convicção é o ponto de partida do raciocínio de Mateus e não teve origem em Is 7,14."
"É claro que só quem partilha a fé de Mateus e da sua comunidade a respeito de Jesus pode partilhar também a sua leitura de Is 7,14."
– FRANCOLINO J. GONÇALVES.